domingo, 23 de outubro de 2011

Um antigo e riquíssimo baú traz à lembrança os bons tempos do futebol-arte


Time infantil do Sport Club Brasil, em 1949 - Ee pé: Galhardi, Zeca, Vilson, Antoninho, Sérgio e Auto. Agachados: Carlson, Marcão, Ivo, Henrique e Alexi. 
Time juvenil do E.C. Guarani, em 1950 - Em pé: Técnico Claudionor,  Cabeleira, Gabriel, Gilmar, Luiz, Banha, Antoninho, Bico e Jurandir. Agachados: Mascrinha, Darni Machado, Jairo, Plínio e Luiz.
Time Juvenil do Sport Club Brasil, em 1951 - Em pé: Técnico Claudionor, Jurandir, Belmiro, Antoninho, ..., Ivo Hoffmann e Jesus. Agachados: Jairo, Ciriba, Caneca, Plínio e Tonho.
Sport Club Brasil, em 1954 - Em pé: Alfeu Medeiros de Souza (Toquinho), Ferrugem, Quidinho, Juarez, Antoninho, Norinho e Quarenta. Agachados: Beraco, Mascrinha, Darcizinho, Nery Trindade e Dinho. 
Desde sempre fui bastante afeito a preservar tudo que caísse em minhas mãos. É claro que nem tudo é possível, além de que, com o passar dos anos, não há como guardar tudo. Mas teimosamente me propus a preservar tudo o quanto se refere à memória, seja da minha vida, seja da vida da cidade. Assim, criei, entre outros blog com enfoque diferente e específico, este blog com este objetivo fundamental de resgatar a história ou a memória do futebol de Canoas. E, sem me dar conta em que resultaria, fui sendo surpreendido em diversas passagens, através da atitude de gente de Canoas e canoenses que atualmente moram fora do estado ou do próprio Brasil, enviando informações, dados e fotos, como Joel Dória Ferreira (Natal-RN), José Carlos Melo (irmão do guitarrista e fundador do conjunto Musical Apache, o saudoso João Melo, de Santa Catarina), Maria Salete Lady Verardi da Silva, de Santa Catarina, e Denise Pistóia (Estados Unidos) e até um colecionador sobre coisas do futebol de Pelotas, que me conseguiu a logomarca do G. E. Veronese, e canoenses ainda residindo aqui, como Francisco Medeiros de Souza (o Chiquinho), José Carlos Costa (o Carlinhos ou Zefa), entre outros tantos, conhecidos ou não, canoenses ou não. Daí percebi que há mais gente que guarda, obviamente que coisas das suas recordações no que podemos chamar de verdadeiros baús recheados de rqlíquias, um pouco da memória da cidade e sua gente, com seus hábitos e costumes, maneira de viver e tradições.

E foi assim, através do Rafael Felipe Silva de Souza, filho do meu ex-colega do curso primário e ginasial, ainda no Externato São Luiz (com mesmo "Z"), da Congregação dos Irmãos Lassalistas, e um belo craque da bola, Alceu Medeiros de Souza (o Zi), que acabei me encontrando com o Antonio Xavier dos Santos, conhecidíssimo como Antoninho ou Toninho. Por sinal, como me revelou na tarde do sábado, 22/10/2011, e como confirmam as fotos guardadas com muito carinho no seu álbum de fotografias organizado com dedicação e zelo pela sua dedicada esposa Judite, foi também um belíssimo jogador de futebol. Só não se profissionalizou porque nos anos dourados ou diamantinos o futebol não "dava camisa prá ninguém", como se dizia. Era mais um passatempo de se fazer o que realmente se gostava: jogar futebol ... futebol-arte.


Era ainda o tempo em que se jogava futebol em campos de grama natural, sem a vantagem do sistema de drenagem quando chovia. A bola de couro natural, de cor marron, pesada, dura e formatada com gomos, cuja câmara interna era inflada com bomba de encher pneu de bicicleta, através de um bico que, depois de cheia de ar, era guardado através de uma abertura fechada com tentos também de couro duro. Nas fotos dois modelos de bola daquele tempo. Mesmo assim, com todas essas diferenças e rusticidade, era o tempo do futebol-arte.
A primeira bola, dos anos 50, usada como se pode constatar, que aparece na foto pertence aos arquivos do F.A Barcelona,  da Espanha.
Bem, Antoninho, enquanto comentava sobre cada foto, rememorava fatos que, quer queiramos ou não, marcam nossas vidas. Isso eu percebia no tom da sua voz, na sua maneira de falar e no brilho dos seus olhos que transpareciam uma certa dose de vaidade (no bom sentido).  E, na sua maioria, são fatos que movem e comovem e vamos carregá-los pela vida toda. Antoninho só não se tornou um profissional porque naquelas décadas o futebol não garantia a sobrevivência do presente e sequer do futuro. Daí é que surgiu que o "futebol não dá camisa prá ninguém".

E no decorrer da conversa, regada a guaraná (ambos abstêmios), que fluiu por mais de duas horas, constatei muitos pontos ou situações em comum, muitos fatos e pessoas que tinham a haver com ambos. Confesso que me senti bastante à vontade, tanto pela simpatia do Antoninho como da sua esposa, que, inclusive, disse já me conhecer de muito tempo, pois lia minhas colunas sociais desde meus tempos no semanário O Timoneiro. E lá se vão 45 anos de crônica social e jornalismo.

Pois o zagueiro Antoninho passou por diferentes clubes amadores de Canoas, como o Sport Club Brasil (desde o infantil), o Esporte Clube Oriente, Seleção do V Comando Aéreo da Aeronáutica (V Comar), seleção da Varig até o futebol de salão no Esporte Clube Bandeirantes. Este, originalmente, oriúndo do Esporte Clube São José, fundado em 21/04/1960 (mesmo dia da inauguração da capital Brasília ou Belacap), cujos fundadores eram todos jovens moradores da Rua Frederico Guilherme Ludwig. E entre eles, este blogueiro, que acumulava as funções de fundador, vice-presidente, técnico e jogador. Assim, fomos campeões, com o Time "B" do Esporte Clube São José (no ano seguinte passou a disputar o campeonato municipal sob a denominação de E. C. Bandeirantes), treinado sob a minhas ordens, do campeonato realizado em 1960, em cancha de grama e terra, e por nós (turma da rua e adjacências) construído.

Para não dizer que o zagueiro Antoninho jamais recebera dinheiro prá jogar futebol, a convite da direção do E. C. Oriente, inclusive com a interveniência do saudoso Léo Fonseca (ex-craque do Esporte Clube Cruzeiro, de Porto Alegre e que integrou o time quando o Cruzeiro foi o primeiro clube a excursionar à Europa, juntamente com outro saudoso canoense, Walter Spiess, o Valtão), acabou assinando contrato com o Oriente por CR$ 50,00 por cada vitória e mais CR$ 50,00 mensais que o próprio Léo lhe dava. Com esse salário (?), contou Antoninho, podia ter dinheiro para ir aos bailes e tomar algum refrigerante, já que com o salário onde trabalhava tinha que ajudar os pais na manutenção da casa. Era tão "seguro" com relação a dinheiro, como contou, que não pagava refrigerante nem mesmo para as gurias. Antoninho de dia trabalhava na Varig e à noite numa função do Governo do Estado. E assim se aposentou. E ainda arranjava tempo para o futebol.

Essa história, que não é única, me valeu muitíssimo, pois, como bom saudosista que sou, me fez voltar aos anos 50, 60 e 70, quando, não apenas o futebol, mas a vida em si tinha mais sabor, se curtia com mais entusiasmo, mais educação para com os pais, professores e as demais pessoas e mais romantismo e mais senso de altruísmo e fraternidade.

"Oh, que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais! / ..." (Casemiro de Abreu).



Colocação das faixas no Sport Club Brasil Campeão de Canoas 1954, em jogo realizado contra o Grêmio Esportivo Niterói.
Grupo de jogadores e amigos comemorando o título de Campeão de Canoas conquistado pelo Sport Club Brasil em 1954.
Antoninho Xavier dos Santos com a faixa de campeão em 1955. E, ao lado, Mascrinha e Antoninho compeões de 1954.




Nessa oportunidade a seleção da Associação La Salle, formada por ex-alunos do Externato São Luiz (hoje Centro Educacional La Salle), jogou na cidade de Garibaldi-RS, contra o Grêmio Atlético Guarani daquela cidade, que no ano anterior (1959) havia sido campeão da Chave "Azul", que integrava os clubes da Segunda Divisão, ou Clubes Amadores, do Rio Grande do Sul.


Por ocasião da realização da Olimpíada da Varig, no Rio de Janeiro, em 1965, a delegação gaúcha teve a cortesia de visitar o, então, maior Estádio de Futebol do Mundo: o Maracanã. E por ocasião das Olimpíadas promovidas em São Paulo, a delegação gaúcha ficou hospedada no Estádio do Pacaembu, enquanto durou a competição.


* Para ampliar as fotos basta um clic sobre as mesmas.
** Contatos via e-mail: la-stampa@ig.com.br
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